Ao longo da história, o pensamento racional e científico tem vindo a colocar em posição dominante os critérios da objectividade, do real e do verdadeiro, em detrimento dos critérios que nascem do senso comum e da sensação ou da intuição.
Sherry Turkle, no seu livro "O Segundo Eu" de 1984, já tinha alertado para o seguinte: enquanto o ser humano tinha os animais como entidades mais próximas, ele identificar-se-ia por oposição como ser racional. Agora que as entidades mais próximas são os computadores e máquinas, ela previa que os seres humanos iriam identificar-se, mais uma vez por oposição, como seres emocionais e intuitivos.
A verdade é que as pessoas têm vindo a valorizar a emoção e a intuição como formas de aceder ao conhecimento. Muitos consideram mesmo que a razão e a ciência são empecilhos ao conhecimento autêntico. E, cada vez mais, tanto pessoas incultas como cultas aderem a estes pontos de vista.
Este estado de coisas é tanto mais paradoxal quanto o nível de instrução das pessoas tem vindo a subir de forma significativa. Porque acontece isto?
Uma explicação possível reside no facto de a educação facultada às pessoas ter-se vindo a tornar progressivamente mais laxista. As pessoas saem, assim, do sistema de ensino sem um conhecimento solidamente constituído.
Antigamente, havia muita gente analfabeta, mas era gente que respeitava o saber. O que há de diferente hoje é que os jovens não respeitam o saber. Chegam mesmo a reduzir o conhecimento científico a uma mera opinião, a algo de facilmente descartável face a outra qualquer representação do mundo que os atraia mais e que "intuitivamente" lhes pareça ser mais verdadeira.
Não tenho uma visão antropocêntrica do conhecimento, admito mesmo que provavelmente não existe uma forma única de fazer ciência. Também desconfio de muito conhecimento que se arroga de científico e que, depois, dá provas do mais absoluto desastre (como a Macroeconomia).
Mas preocupa-me que todos os tipos de conhecimento sejam igualmente valorizados. Chega mesmo a assustar-me que as pessoas achem que todas as proposições, por mais absurdas e estapafúrdias que sejam, podem assumir o estatuto de conhecimento. Porque, ao contrário do que se quer fazer crer, não são portas que se abrem para o desenvolvimento da humanidade (são-no apenas para os oportunistas).
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