domingo, 31 de julho de 2011

Combater a depressão com armas caseiras

Eis uma nova abordagem para o tratamento de depressões pouco intensas: PAI – Positive Activity Interventions.

Os autores deste estudo procederam a uma revisão extensa e aprofundada da literatura científica relacionada com as PAI. E que concluíram eles?

Sendo a depressão uma doença a crescer de dia para dia, com cada vez menos gente a receber tratamento adequado, com cerca de um terço dos que são tratados a não sentirem melhoras, as PAI surgem como tratamento complementar ou uma alternativa de tratamento prática, barata, fácil de integrar numa rotina diária e que não exige acompanhamento médico.

O que são as PAI? São actividades deliberadas que incluem escrever cartas de agradecimento, contar as dádivas que recebe, praticar o optimismo, realizar actos de bondade, meditar em sentimentos positivos dirigidos para as outras pessoas e usar as suas próprias “signature strengths” (são traços do nosso carácter com os quais, quando postos em acção, percebemos que somos naturalmente bons e que são uma fonte importante de emoções positivas para nós).

Referência:
Restoring Happiness in People With Depression (2011), Science Daily.

sábado, 30 de julho de 2011

Carácter forte? Isso é o que veremos...

Segundo David DeSteno e Piercarlo Valdelsolo, o nosso carácter, aquilo que modela o nosso comportamento moral, é pouco mais do que uma ficção. Porque ele, na realidade, é profundamente condicionado pela situação em que a pessoa se encontra num dado instante.

Por outras palavras o nosso comportamento moral é tudo menos constante. Já tínhamos visto no post anterior que ele dependia muito de sentirmos ou não que alguém nos está a observar (daí que o poster com os olhos a fixarem-nos ser muito menos eficaz quando há muita gente à nossa volta, porque assim diminui a probabilidade de alguém estar atento ao que fazemos).

Ou seja, o nosso carácter funciona em fluxo. Quando a vida, num dado momento, nos apresenta um dilema, em termos de ganho imediato ou a longo termo, por exemplo, o nosso comportamento pode vir a constituir uma verdadeira surpresa, até mesmo para nós próprios!

Quer isto dizer que somos arrastados por forças que não controlamos? Que não somos responsáveis pelo que fazemos? De maneira nenhuma. Apenas se defende aqui que o comportamento moral não é determinado unicamente pelas nossas boas intenções. Portanto, a questão fundamental que se deve pôr não é se tu tens um bom carácter, mas sim se, aqui e neste exacto momento, tu és de facto uma boa pessoa .

Referência:
Gareth Cook (2011), Authors David DeSteno and Piercarlo Valdelsolo argue that much of our good and bad behavior is situational, Scientific American.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Como nos portamos melhor quando sentimos alguém a olhar para nós


As pessoas portam-se melhor, isto é, têm mais em atenção a colectividade quando se sabem observadas, do que quando pensam que ninguém as está a ver.

Uma investigação levada a cabo na cantina principal da Universidade de Newcastle por Ernest-Jones, Nettle e Bateson (2011) (em meio natural, não em laboratório, portanto) veio demonstrar que nem sequer é preciso estar alguém fisicamente a observar-nos: um poster com um par de olhos a olhar fixamente para nós é quanto basta. O número de pessoas a arrumar a sua travessa com os restos de comida duplicava quando esse poster estava na parede (além disso, os resultados melhores eram obtidos quando havia pouca gente).

Ah, mas os clássicos gregos já tinham pensado nisto (como em quase tudo o que pensamos ter “descoberto” na nossa época).
(Agradeço à Senhora Sócrates a referência)
Ora, veja-se em Sofistas – Testemunhos e Fragmentos (2005, pp. 260-261)) o que Eurípedes faz dizer a Sísifo na peça do mesmo nome (de que só restam fragmentos):

«Em seguida, uma vez que as leis os impediam
de praticar manifestos actos de violência
e eles os praticavam às ocultas, parece-me que nesta altura
[pela primeira vez] um certo homem, ousado e sábio na maneira de pensar
inventou o receio [dos deuses] para os mortais, para que
os malvados tivessem receio de fazer
ou dizer ou pensar [algo] às ocultas.»

Ainda na obra citada (pp. 259-260) se refere o seguinte:
«Também Crítias, um dos que exerceram a tirania em Atenas, parece pertencer ao grupo dos ateus, ao dizer que os antigos legisladores conceberam a divindade como uma determinada entidade que observa as boas e as más acções dos homens, a fim de que ninguém cometesse, às ocultas, uma injustiça para com o próximo, precavendo-se de um castigo por parte dos deuses.»

Referências:
Sander van der Linden (2011). How the illusion of being observed can make you a better person, Scientific American, 2011.
Sofistas (2005). Testemunhos e Fragmentos. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O poder inspira hipocrisia

Os poderosos apresentam uma maior tendência para mostrar um elevado nível de exigência moral em relação aos outros, revelando-se depois muito menos rigorosos consigo próprios. Isto torna-se ainda mais evidente entre aqueles que acham que merecem e que têm direito à sua situação de poder.

Esta conclusão foi tirada após a realização de uma série de estudos de role-play, referentes a diversas situações que apresentavam dilemas morais.

Aqueles que eram mais exigentes consigo mesmos do que com os outros (um fenómeno chamado pelos investigadores de “hipercrisia”), pertencem ao grupo dos sem poder ou dos que, tendo-o, acham que pessoalmente não têm direito a ele.

Um dos investigadores, Adam Galinsky, fez notar:
No fim de contas, os hábitos de hipocrisia e de hipercrisia perpetuam a desigualdade social. Os poderosos impõem ao outros regras e restrições que eles próprios ignoram. Por outro lado, os sem poder colaboram na reprodução da desigualdade social porque não sentem que tenham o mesmo direito que os poderosos de as ignorar.

Por outras palavras, os sem poder vêm-se a si mesmos como mais vulneráveis às punições e acham-se sujeitos a regras mais estritas. Os mais poderosos acham que não têm de se submeter a tantas regras como os outros.

Vários estudos vieram demonstrar, por outro lado, que os que quebram as regras básicas do convívio social são vistos como tendo e podendo exercer mais poder, como se mostra aqui.

Há, portanto, nesta matéria múltiplos efeitos que conduzem não só à manutenção da desigualdade social, como também ao reforço da corrupção e do abuso de poder.

 (via ScienceDaily)

domingo, 17 de julho de 2011

A linguagem e… o amor!

Já se sabia que relações bem sucedidas dependiam de os membros do casal partilharem interesses, valores e traços de personalidade comuns.

Mas num estudo conduzido por James Pennebaker verificou-se que quanto mais palavras gramaticais (preposições, pronomes, conjunções, etc) em comum o casal usava, mais atraídos se sentiam um pelo outro, independentemente do que pareciam que tinham em comum.

Noutro estudo, ao analisar estas palavras gramaticais em casais, quantas mais tinham em comum, maior era a a probabilidade de se manterem juntos três meses depois.

A questão que se pôs então foi de ordem temporal: as pessoas sentem-se atraídas pelo uso comum daquelas palavras; ou, por se sentirem atraídas, alinham depois o uso daquelas palavras um pelo outro?

Pennebaker acredita mais nesta última hipótese, dado que ela revela que os casais mais bem sucedidos são os que mais prestam atenção um ao outro, são os que mais se ouvem um ao outro.

sábado, 16 de julho de 2011

A percepção da morte varia culturalmente

A forma como as pessoas pensam sobre a morte varia culturalmente de modo significativo.

Neste estudo, verificou-se que as pessoas de origem ocidental, que são mais individualistas, e provavelmente para proteger o seu sentido do eu, tornam-se mais duras, intolerantes e distantes em relação aos outros, principalmente se estes não forem como elas. Além disso, distanciam-se de vítimas inocentes.

As pessoas de origem asiática, cujo sentido do eu está mais ligado às pessoas que as rodeiam, mostram-se mais bondosas e compreensivas, quer com aqueles que diferem de si, quer com as vítimas inocentes. Daí que estas pessoas, quando se sentem ameaçadas pela sua própria mortalidade, tendam a aproximar-se dos outros.

(via ScienceDaily)