terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primeiros dias. Praxe académica.

Já vou no 2º dia de aulas.

Gostei de quase tudo: dos colegas da turma (todos extremamente simpáticos), dos programas (com conteúdos imensamente interessantes) e dos professores (também muito simpáticos e que me parecem bons a explicar). Sinto um enorme entusiasmo que dificilmente consigo conter!

Só me entristece profundamente uma coisa que tenho vindo a assistir nestes dois dias.

Revolta-me profundamente a praxe académica. As técnicas e métodos usados para diminuir e humilhar os "caloiros" é uma coisa que jamais poderei aceitar e com que jamais poderei pactuar. Assusta-me mesmo alguma vez ter de voltar a cruzar-me com estas pessoas capazes de fazer o que fazem.

E acho inaceitável que haja professores que deixem umas energúmenas entrarem nas suas aulas que vêm para insultarem os seus alunos, a chamarem-nos de "bestas"; e, ainda por cima, a não deixarem levantar os olhos, nem sorrir, nem responder, nem nada, tudo sempre aos gritos e com expressões faciais assustadoras.

Fico estupefacto: há os professores que sorriem perante isto, ou que chegam mesmo a fugir (é o que parece, visto sairem da sala antes da hora de terminar a aula), deixando lá os seus alunos entregues à arbitrariedade de alguns (em Psicologia são praticamente só raparigas a praxar, o que para mim é ainda mais assustador).

Alguma vez eu deixaria que insultassem os meus alunos, na minha sala, e durante a minha aula? Não compreendo esta conivência.

Infelizmente, penso que percebo os professores. Para além de também estarem cheios de medo, devem dizer para si próprios: «Os "caloiros" que se deixam tratar assim é porque o querem, podem sempre recusar, não tenho nada a ver com isto». Mas têm, sim. Porque, ao fazê-lo,:
1º, recusam empatizar com os alunos assustados ou incapazes de ter a coragem de fazer frente a esta gente que usa técnicas horríveis de intimidação (que inclui até a ameaça de um famigerado tribunal da praxe a lembrar os antigos tribunais plenários da ditadura - aliás aqui tudo faz lembrar o fascismo: os símbolos, as atitudes, a violência verbal, etc)!
2º, porque estão a avalizar estas práticas com a sua condescendência, com a sua presença, com os seus sorrisos... ou com a sua fuga da sala de aula! E demitem-se da sua função de educadores.
3º, porque ao não se posicionarem claramente contra, mostram que estão a favor (entre um torturador e um torturado mais fraco, optar pela neutralidade é sempre pôr-se do lado do torturador).

Para terminar: eu levantei-me e declarei-me anti-praxe perante as "praxadoras". Saí da sala. Não sei se deveria ter saído. Mas também não sei o que possa fazer.

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