sexta-feira, 29 de julho de 2011

Como nos portamos melhor quando sentimos alguém a olhar para nós


As pessoas portam-se melhor, isto é, têm mais em atenção a colectividade quando se sabem observadas, do que quando pensam que ninguém as está a ver.

Uma investigação levada a cabo na cantina principal da Universidade de Newcastle por Ernest-Jones, Nettle e Bateson (2011) (em meio natural, não em laboratório, portanto) veio demonstrar que nem sequer é preciso estar alguém fisicamente a observar-nos: um poster com um par de olhos a olhar fixamente para nós é quanto basta. O número de pessoas a arrumar a sua travessa com os restos de comida duplicava quando esse poster estava na parede (além disso, os resultados melhores eram obtidos quando havia pouca gente).

Ah, mas os clássicos gregos já tinham pensado nisto (como em quase tudo o que pensamos ter “descoberto” na nossa época).
(Agradeço à Senhora Sócrates a referência)
Ora, veja-se em Sofistas – Testemunhos e Fragmentos (2005, pp. 260-261)) o que Eurípedes faz dizer a Sísifo na peça do mesmo nome (de que só restam fragmentos):

«Em seguida, uma vez que as leis os impediam
de praticar manifestos actos de violência
e eles os praticavam às ocultas, parece-me que nesta altura
[pela primeira vez] um certo homem, ousado e sábio na maneira de pensar
inventou o receio [dos deuses] para os mortais, para que
os malvados tivessem receio de fazer
ou dizer ou pensar [algo] às ocultas.»

Ainda na obra citada (pp. 259-260) se refere o seguinte:
«Também Crítias, um dos que exerceram a tirania em Atenas, parece pertencer ao grupo dos ateus, ao dizer que os antigos legisladores conceberam a divindade como uma determinada entidade que observa as boas e as más acções dos homens, a fim de que ninguém cometesse, às ocultas, uma injustiça para com o próximo, precavendo-se de um castigo por parte dos deuses.»

Referências:
Sander van der Linden (2011). How the illusion of being observed can make you a better person, Scientific American, 2011.
Sofistas (2005). Testemunhos e Fragmentos. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

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