sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Not What We Say, But What We Do: (...)"

No início dos anos 60, Stanley Milgram realizou uma série de experiências em que mostrou que as pessoas, apesar de terem a opinião de que jamais fariam mal a uma vítima indefesa, acabam por o fazer sob a pressão de determinadas circunstâncias reais. A circunstância que Milgram escolheu foi a da autoridade, em relação à qual os participantes tinham que escolher obedecer ou não. A esmagadora maioria escolheu obedecer.

(Ver aqui uma série de posts que fiz sobre as experiências de Milgram)

A 4 de Abril de 2011, no encontro anual da Cognitive Neuroscience Society, Oriel FeldmanHall e outros investigadores da Universidade de Cambridge apresentaram os resultados de uma investigação

(Not What We Say, But What We Do: A Neural Basis For Real Moral Decision-Making. Oriel FeldmanHall, Tim Dalgleish, Russell Thompson, David Evans, Susanne Schweizer, Dean Mobbs - Cambridge University e Medical Research Council Cognition and Brain Sciences Unit - o respectivo abstract pode ser lido aqui, bastando depois ir à pág. 27 do pdf, 24 do programa.)

semelhante à de Milgram, embora com algumas diferenças:
- A circunstância real escolhida não foi a autoridade, mas o dinheiro: não se davam ordens aos participantes, pagava-se-lhes para administrarem electrochoques dolorosos a outras pessoas;
- Os participantes eram submetidos a uma ressonância magnética durante a experiência;
- Este estudo, com objectivos mais modestos, não é tão completo e exaustivo como o de Milgram. No entanto, os resultados são igualmente espantosos.

Observou-se uma diferença profunda entre o que as pessoas pensam hipoteticamente que vão fazer e o que farão em circunstâncias reais.

64% das pessoas inquiridas afirmaram que nunca administrariam electrochoques a outros por dinheiro.

96% das pessoas administraram mesmo electrochoques a terceiros, apenas para receberem até 1£ por cada um (o que recebiam dependia do grau de intensidade do choque que escolhessem aplicar). Tinham, no máximo, 20 tentativas. Testemunhavam os efeitos dos choques através de um sistema de vídeo.

Deste grupo de participantes, os que viram apenas a mão da vítima "fizeram" uma média de 15,77£ (de um máximo de 20).
Os que viram a mão e o rosto da vítima "fizeram" uma média de 11, 55£.


Via Wired Science

2 comentários:

  1. Ou seja:olhos que não vêem, coração que não sente... olhos que vêem, coração sente pouco :(
    Muito triste e perturbador.
    Sara Barbosa

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  2. Sem dúvida. O dinheiro, de facto, exerce um poder terrível sobre as pessoas.

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