Do livro Mulheres de Olhos Grandes, de Angeles Mastretta (2003), edições ASA.
Desde muito nova, a tia Eloísa achou por bem declarar-se ateia. Não lhe foi fácil dar com um marido que estivesse de acordo com ela, mas procurando, encontrou um homem de sentimentos nobres e maneiras suaves, a quem ninguém ameaçara a infância com assuntos como o temor a Deus.
Ambos educaram os filhos sem religião, baptismo ou escapulários. Os filhos cresceram sãos, bonitos e corajosos, apesar de não terem por trás a tranquilidade de se saberem protegidos pela Santíssima Trindade.
Só uma das suas filhas julgou precisar do auxílio divino e durante os anos da sua adolescência tardia procurou auxílio na igreja anglicana. Quando teve conhecimento daquele Deus e dos hinos que os outros lhe entoavam, a rapariga quis convencer a tia Eloísa de como podia ser bela e necessária aquela fé.
- Ai, filha – respondeu-lhe a mãe, acariciando-a enquanto falava -, se eu não consegui acreditar na verdadeira religião, como te passa pela cabeça que irei acreditar numa falsa?
Quando li esta história deste delicioso livro de contos, percebi que este era um bom exemplo de como uma investigação quantitativa pode falhar.
Se fosse apresentado um questionário à tia Eloísa, ela responderia simplesmente “Ateia” no item “Confissão religiosa”. Mas, como vemos pela história, há nuances que um questionário seco e frio deixaria escapar completamente. Não, seria preciso uma boa conversa, ou seja um bom método qualitativo de investigação, para perceber o que esta história nos deixa entrever.