sábado, 12 de setembro de 2015

Um Eu, muitos eu's

Nós somos vários. Uma rede de eu's, fluida e dinâmica, em permanente mutação, constitui a nossa personalidade.

O eu ansioso, o eu zangado, o eu triste, o eu auto-crítico, etc.

Ou o eu cônjuge, o eu progenitor, o eu profissional.

E, possivelmente, ainda dentro de cada um destes uma série de sub-eu's.

Assim, quando digo "Eu sou um ansioso", quem está a falar é apenas uma parte de mim mesmo, não sou Eu, realmente. No fundo, trata-se de um padrão neuronal (nalguns casos, criado na infância por razões de sobrevivência ligadas ao contexto da criança; noutros, faz parte da biologia do cérebro, são como que arquétipos) que foi ativado em detrimento de outros.

Constituem uma rede que pode ser comparada a uma orquestra ou a uma equipa desportiva. Cada um dos seus elementos pode ser considerado como semi-independente, pois pode funcionar em colaboração ou não com os outros.

Quando funcionam em harmonia e equilíbrio, quase se não dá conta deles: vamos fluindo de uns para os outros, consoante o que as circunstâncias nos solicitam, sem grandes conflitos (ou, se eles surgirem, são satisfatoriamente resolvidos).

Não basta isto, no entanto, para um funcionamento promotor de uma vida feliz e de um crescimento gratificante. É necessário que não se assista a um predomínio de eu's a criarem mais dificuldades do que a resolvê-las. E é preciso que o eu dominante, ou seja aquele que coordena, que está por detrás do funcionamento daqueles outros, seja o que mais abertura e nutrição proporcione. Há quem chame a esse eu, o Verdadeiro Eu.

A fim de que isso possa acontecer, que a relação entre eu's mude, que aceitem inclusivamente mudar-se a si próprios, é necessário que haja um Eu em quem confiem e que os possa orientar nessas mudanças. Pessoalmente, e assumindo uma herança que veio primeiramente das religiões, considero que aquele que tem melhores condições para satisfazer estas condições é o Eu Compassivo.

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